TRAVESSIA HISTÓRICA DAS EXPOSIÇÕES QUE FIZERAM NASCER O PROJETO: DE CORPOS NO MUNDO
Ano 2000 |“Instalação Ambientes”
Em junho do ano 2000 concebi-executei um projeto de arte-educação chamado “Instalação Ambientes” que convidava a refletir sobre os principais problemas gerados e enfrentados pela sociedade.
A instalação era organizada pelas fases da vida (que não são estanques) composta de uma montagem integrando poesias, pinturas, fotografias e esculturas; retratava e denunciava as diferenças sociais e a necessidade urgente de ação individual e coletiva. Dentro da instalação foram criados espaços para que os visitantes escrevessem o que acreditavam que precisava ser feito para vivermos um mundo melhor e, também, para que pudessem fazer doações de roupas, brinquedos e alimentos não-perecíveis (que posteriormente foram encaminhadas para Instituições sem fins lucrativos). Buscava instigar as pessoas a compreenderem que não precisamos passar por todas as fases da vida, perder pessoas especiais ou sofrer com graves doenças para percebermos que o mundo necessita de cada um de nós. Afirmava que se o sistema social que a humanidade criou não está dando conta de atender a todos, os que se conscientizam disto, se diferenciam, e precisam agir. Porque, enquanto persistimos em guardar coisas em nossos AMBIENTES acreditando que um dia possam vir a ser úteis, muitas pessoas estão buscando comida em latas de lixo, morando em pontes e calçadas… não sabendo ler nem escrever, sobrevivendo na fome, do crime e com doenças.
1ª mostra – Galeria de Arte do Círculo Militar – Campinas/SP (junho/2000)
2ª mostra – Espaço de Arte Pe. Mário Pennock da Casa Joka – Itajubá/MG (julho/2000).
Reflexões: Por mais que o projeto Instalação Ambientes tivesse a pretensão de “instigar as pessoas a refletirem sobre os principais problemas gerados e enfrentados pela sociedade”, eu tinha expectativa de que os visitantes pensassem nas soluções, mas independente da idade, escolaridade e condição social era sempre mais fácil falarem sobre os problemas, repetirem alternativas por meio de slogans publicitários. Era raro ouvir soluções tangíveis. Fiquei refletindo muito sobre isto para criar um novo projeto.
Ano 2008 |“De Olhos no Mundo”
Concebi e realizei a exposição De Olhos no Mundo composta por esculturas e poemas que abordam temas como meio ambiente, alteridade, sustentabilidade e inclusão. Os visitantes eram convidados a fazer o percurso de olhos vendados, tocando nas obras, tendo acesso aos textos em áudio e Braille. O foco da exposição era no que precisamos ver e fazer, nas possibilidades e não nos problemas. As cinco edições realizadas em Campinas-SP, atendendo públicos diversos trouxe uma série de inquietações e uma rica experiência sobre “aprender sem ver”, reforçou em mim a certeza de que precisamos aprender a nos ver, a ver o outro e o mundo com todos os sentidos.
Ano 2012 |“Na Ponta dos Dedos”
No início do ano de 2011, fui procurada por Roberta Amaral que trabalhava no Museu do Escuro quando fiz a primeira edição da exposição De olhos no Mundo, para apresentar-me Silvio Girotto da ACEBEM (Associação Cegos do Bem). Desta aproximação surgiu a ideia de fazer uma exposição literalmente no escuro, na qual as obras não seriam vistas após a visita tátil. Convidei a professora Vera Pinke para produzir as obras comigo, para compor obras táteis, nascia assim: Na Ponta Dos Dedos ; As três primeiras edições foram realizadas nas cidades de Jundiaí, Campinas e Mogi das Cruzes (estado de São Paulo) em 2013-2014.
Ano 2016 | De Corpos no Mundo
Em 2016, com a fusão das obras criadas nessas três exposições surgiu o projeto de extensão no IEFES/UFC – De Corpos No Mundo, mostrando que não só seus olhos, nem seus dedos estão em contato com o ambiente, mas sim, o corpo todo. Sem a visão pode conhecer um mundo jamais experimentado anteriormente.
Tatiana Passos Zylberberg
Autora-artista e Coordenadora
DE CORPOS NO MUNDO 